sexta-feira, 6 de abril de 2012

não estamos a um clique de distância

texto de Uma amiga, expatriada, Fernanda paraguassu é jornalista e mae de 2 filhos, nos conhecemos aqui em Buenos Aires e hoje ela ta em Jerusalem...vamos ver o que ela escreve sobre saudade?
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De vez em quando vem uma criança me perguntar se estou com saudade do Brasil, da vovó, do vovô, do biscoito de polvilho com mate gelado na praia... E lá vamos nós trocar figurinhas e lembrar de mais coisas gostosas de que sentimos falta, tentando aplacar por um momento a saudade com as nossas lembranças. Quando encontramos um pão de queijo congelado ou um guaraná perdido na padaria lá longe, comemoramos juntos! Não deixo de cozinhar o feijão preto para o almoço e invento uma farofinha com uma farinha diferente.

Tento mostrar para meus filhos - adaptados à mudança de país - que é normal sentir saudade, e que ela é um sinal de que temos coisas boas nos esperando quando voltarmos. Não precisamos passar uma borracha no que ficou longe para curtir o lugar onde estamos. Pois isso seria difícil quando temos um carinho pelo que ficou do outro lado do mapa.

Saudade de casa é um sentimento bastante comum, que existe desde a época da Odisseia. Mas poucos falam abertamente sobre a dor que é deixar o próprio lar para trás. Segundo Susan J. Matt, professora de história da Weber State University, hoje a emoção é vista como um impedimento de progresso e prosperidade, e o silêncio dá a impressão de que você é uma pessoa flexível e tirou de letra o processo migratório.

Autora de "Homesickness: An American History", Susan diz em artigo no NYTimes que precisamos passar a imagem de que somos cidadãos do mundo e que devemos nos sentir em casa em qualquer lugar, com a capacidade de nos separar facilmente da família, de casa e do nosso passado. Mas isso vai de encontro aos nossos sentimentos e aos nossos laços fortes e duradouros, volta e meia tão subestimados.

Tanto que um levantamento feito por Susan mostra que muitas pessoas que deixam o lar em busca de melhores chances em outro lugar terminam se sentindo deslocadas e deprimidas. Recente pesquisa divulgada pelo instituto Gallup revela que 1,1 bilhão de pessoas no mundo querem mudar de país temporariamente em busca de novas oportunidades de trabalho. Outros 630 milhões querem mudar de vez. É um desejo global que cresce com a convicção de que a mobilidade é possível e que indivíduos não precisam manter laços com lugar algum.

Segundo a professora, nem mesmo a tecnologia, que fez aumentar o contato entre as pessoas, foi capaz de combater a melancolia que acompanha mudanças de país. Skype, e-mail e Facebook nos dão a falsa impressão de que as pessoas queridas estão a um clique de distância. Ao manter o contato com os familiares, a pessoa continua a acompanhar as vidas que seguem sem ela. É como ter a sensação de "olha o que eu estou perdendo" ao ouvir a frase "só falta você aqui".

Por isso, sinto que as crianças às vezes nos dão um banho em administrar a saudade. Não têm constrangimento em dizer que sentem falta disso ou daquilo, não se preocupam em passar imagem alguma, e só falam pelo computador quando têm histórias interessantes para contar. E, ao expressarem saudade à sua maneira, aprendem desde pequenas a respeitar seu passado e, principalmente, seus sentimentos.

Fernanda Paraguassu escreve toda segunda no site do GNT

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