sábado, 10 de setembro de 2011

Espanhol ou castellano? e o portugues onde fica? portunhol naooooooo...


Viver na Argentina é uma delícia(apesar de tudo, e quem está lendo isto e vive aqui sabe do que estou falando). Porém, a vida em outro país pode causar uma tensão ou apreensão constantes, além, lógico, da saudade, essa melancoliazinha brasileira pelo que é nosso: a mandioquinha, o quiabo, a farinha de mandioca, o pão de queijo, o café, o feijãozinho, o requeijão, a pizza de São Paulo, e tantas, tantas outras coisas. Com essa escolha eu deixei de lado não só essas delícias da culinária do Brasil, mas algo muito pior: a minha língua.

Eu não sei onde ela foi parar. Eu falo espanhol dia e noite, tive a sorte de aprender o idioma com certa rapidez. Aos poucos fui incorporando as expressões locais, a entonação, entendendo o que estava por trás de ditos populares como o “antes malo conocido que bueno por conocer” ou “hecha la ley, hecha la trampa”, além do “atar con alambre”, “cabecita negra”. Além de decifrar as diferenças entre o “al pedo”, “en pedo”, “de pedo”, “a los pedos”, e por aí vai. Outro problema era o de saber qual palavra era lunfardo, uma espécie de gíria criada no porto desde final do século XIX pela mistura desordenada de imigrantes, e o que era língua culta ou mesmo gíria aceitável. Até isso ser resolvido, falei muito “laburo” para trabalhos acadêmicos e “mina” para moças de família. Em espanhol falamos “consistir de” e “responsabilizarse de“. No “vaso” se coloca água e no “florero” as flores, “mala” é uma pessoa má e as pessoas viajam com “valijas”. Bolso, saco, bolsa, copa, taza… nada disso é o que parece. Fora que em espanhol se diz a nariz, a joelho, o água… e até hoje não entendi, por exemplo, como a palavra “área” pode ser o ou a. Essa língua tem muitos mistérios…

Adquirir uma língua nova e, mais ainda, in loco, demanda um esforço emocional e um investimento grande de atenção, dedicação, sensibilidade. Óbvio que nunca esteve no meu horizonte a possibilidade de usar o espanhol para me virar apenas. Os custos disso não demoraram em chegar. Se por um lado eu devia aprender os localismos, ha certas semelhanças que me permitem uma boa mobilidade mas que, aos poucos, vao deturpando meu idioma original.

Um dos maiores problemas de falar línguas tão parecidas é justamente este: a semelhança! Aos poucos fui esquecendo o “compartilhar” e usando o “compartir”, comecei a falar “chegar a” em vez de “chegar em” que, embora seja a regência correta, soa estranho em português. Aos poucos fui confundindo não só as regências, mas também as colocações pronominais. O português ficou curto porque não consegui dizer ele me deu o pacote, substituindo o pacote por um pronome. É necessário repetir… Numa conversa simples na qual falariamos: não precisa me dar o pacote de novo, ele já me deu (o pacote). Em espanhol é simples: “él ya me lo dio”. Além disso, começamos a ver como é burdo ficar o usando o dele e dela o tempo todo. “No sé su nombre” parece mais simples do que “Não sei o nome dela”. A sensação que a gente tem é que o uso cotidiano do espanhol é mais correto do que o nosso uso cotidiano do português, embora não fiz um estudo comparativo tão profundo para poder afirmar isso com certeza.

A língua de Borges é complicada e seu vocabulário, riquíssimo. Porém, não encontrei uma palavra para dizer “folgado”. Seria uma característica própria do brasileiro? Tal como aqui não conheço um bom equivalmente para a palavra “chanta”. Seria uma característica mais própria dos argentinos? Definitivamente, não! O Brasil está cheio de chantas e a Argentina de folgados.

Aliás, agora que fiz estas perguntas… que falta faz no português os dois signos de interrogação. ¿Quantas vezes a gente começa a ler uma frase enorme para descobrir no final que era uma pergunta?

Outra coisa que chama a atenção é como uma língua usa palavras que na outra é arcaico. Em algum momento da sua história, o castelhano trocou o f de algumas palavras pelo h. Então, hermoso, almohada, heno, huir, entre tantas outras, ficam formoso, almofada, feno, fugir, em português. Para eles, nós somos arcaicos! Para nós, dizer formoso ou o seu equivalmente em espanhol também é.

John Wilcox me dizia “if you don’t want to lose it, use it”. Este blog servirá justamente para isso: para eu praticar meu português. Se alguém começar a ver alguma coisa estranha, sua crítica será muy bienvenida!

3 comentários: