domingo, 9 de outubro de 2011

Será coincidencia?

Hoje estava lendo um artigo na Isto e dinheiro e me deparei com um texto que nao posso deixar de postar, as Expats que vivem em Buenos Aires que me respondam, sera que existe alguma semelhanca????
por Hugo Cilo

– Vai beber o quê?

– Boa tarde. Um café espresso duplo e um cappuccino, por favor.

– Algo para comer?

– Por enquanto, não.

– Então vocês não podem se sentar. As mesas são para clientes que gastam mais.

– O quê? Como assim? Nunca vi uma regra como esta. Faço questão de tomar o café que está no cardápio. E não vou comer nada.

– Você não está me entendendo? Mesas são apenas para quem vai comer.

– Isso é um absurdo. Vocês, italianos, precisam mudar o modo de tratar as pessoas que visitam o país, principalmente porque estão em crise. Aliás, agora entendo porque a Itália terá tanta dificuldade para superar a crise. Vocês maltratam turistas, fecham as portas das 13h às 16h para descansar, voltam ao trabalho mal-humorados e, quando falam sobre a recessão e desemprego, culpam apenas o primeiro-ministro, Berlusconi, que foi eleito por vocês. Não percebem que o problema está no comportamento do povo italiano.

– Bom, nós italianos trabalhamos menos porque somos desenvolvidos. Vocês precisam trabalhar mais porque precisam desenvolver a economia. Além disso, o Brasil tem violência. Já o nosso maior problema são essas pombas (a mesa estava cercada por pombas).

– Desenvolvidos? Seu país vive a maior crise desde a Segunda Guerra. A taxa de desemprego aqui é duas vezes maior que a do Brasil. O PIB brasileiro já é maior do que o PIB italiano. Os benefícios sociais aqui, como aposentadorias, bolsas de estudo e gastos com saúde e educação, estão sendo cortados.

– Hummm...

– A Itália é um país maravilhoso, mas não merece a maioria das pessoas dessa geração que vive aqui. Sou neto de italianos. Sei que aqueles que deixaram o país em busca de uma vida melhor conseguiram. Ao que parece, os italianos, pelo menos com quem conversei, não sabem o que é uma crise, muito menos como superá-la. Mas, enfim, ainda aguardo meu café.

– Pois não. Aqui está.

– Ah, agora quero uma torta de fruta. E a conta.




Reproduzi esse diálogo acalorado que tive com um garçom, em um café na Piazza Barberini, no centro de Roma, no domingo 25, por uma razão: tenho a sensação – e não sou o único – de que os italianos ainda não caíram na real. Depois de enfrentar situações de atrito durante o café da manhã e o almoço com funcionários dos restaurantes, esse era o terceiro episódio em que me via maltratado, no mesmo dia. O debate relatado, entretanto, se mostrou especialmente revelador. Ainda falta consciência ao povo europeu de que a realidade mudou. Já há algum tempo, o tema econômico domina as conversas de bar, as rodas de amigos e os programas de auditório na Itália. E com razão. O país vive uma situação inédita, principalmente para os italianos com menos de 50 anos. A taxa de desemprego entre trabalhadores com menos de 35 anos, em 29,6%, é o maior da Europa. O déficit público, que já atingiu 150% do PIB, ameaça benefícios sociais, enquanto o desemprego avança em todas as regiões e as fábricas fecham as portas – como fez a Fiat, dias atrás, da sua unidade da Sicília, com 1,4 mil empregados.

O problema é que a soberba de parte dos italianos os impede de enxergar o novo cenário econômico e, anestesiados, não exibem uma face mais humilde. Nós, brasileiros, não somos melhores ou piores do que nenhum europeu, mas aprendemos a ter mais traquejo e experiência para lidar com crises. Talvez porque sofremos com todos os ciclos globais de recessão nos últimos 30 anos e aprendemos a assumir responsabilidades. Falta postura à Itália. A atitude dos romanos reflete, talvez, a falta de liderança cobrada recentemente pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Guido Mantega no enfrentamento da crise. E com um agravante. Ao mesmo tempo em que a economia tropeça, no campo político o premiê Silvio Berlusconi, aos 80 anos, promete austeridade em meio a festas regadas a prosecco, caviar e lindas mulheres. Pagos com dinheiro público. Ah, Itália, só quero a conta, por favor.

Eu adorei o texto !!!

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